Resumo
Os poemas do
livro Lira dos Vinte Anos estão distribuídos em
três partes. Aparentemente, a última parte foi acrescentada ao projeto original
do autor, já que é a única a não trazer um prefácio. Como a obra foi publicada
postumamente, a hipótese ganha reforço. De uma forma geral, essa terceira parte
retoma os princípios e parâmetros da primeira.
No prefácio da
primeira parte, o autor avisa: “É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas
sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço. // Cantos espontâneos do
coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o
vento levou – como isso dou a lume essas harmonias”. A poesia aparece aqui como
expressão de um estado de espírito marcado pela tristeza e pela melancolia. Ela
funciona como um registro de vida, daí sua espontaneidade – sugestão de que não
teria passado pelo crivo da razão, originando-se diretamente do coração e da
alma do poeta. O anseio de algo que acabou por não se realizar, graças à morte
prematura do autor, está prenunciado na referência ao “sonho”.
“Lembrança de
morrer” é, significativamente, o texto que encerra essa primeira parte. Poema
emblemático de toda a poesia ultrarromântica, trata-se de uma verdadeira súmula
temática da estética: referências à morte (“Quando em meu peito rebentar-se a
fibra, / Que o espírito enlaça à dor vivente”), o desprezo pela vida (“Eu deixo
a vida como deixa o tédio / Do deserto o poento caminheiro”), a saudade materna
(“De ti, ó minha mãe! pobre coitada / Que por minha tristeza te definhas!”) e a
figura feminina, virginal, veículo de um amor platônico (“É pela virgem que
sonhei... que nunca / Aos lábios me encostou a face linda!”).
Já o prefácio
da segunda parte avisa o leitor sobre o que esperar dela: “[O poeta] Tem
nervos, tem fibra e tem artérias – isto é, antes e depois de ser um ente
idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses
elementos, que sou o primeiro a reconhecer, muito prosaicos, não há poesia”. De
fato, os poemas se distanciam do idealismo para tratar de aspectos corriqueiros
da existência humana. O tratamento temático é ainda romântico, mas a nota cômica
que salta aos olhos aqui e ali permite perceber alguma diferença.
Destaca-se
“Namoro a cavalo”, que relata um desastrado encontro amoroso que foge em tudo
da média romântica. O próprio enamorado registra o momento final do episódio:
“Circunstância agravante. A calça inglesa / Rasgou-se no cair de meio a meio, /
O sangue pelas ventas me corria / Em paga do amoroso devaneio!”. Como se vê,
nada que faça lembrar os abraços e beijos – mesmo que sonhados – das aventuras
amorosas do romantismo.
Fonte: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/lira-dos-vinte-anos.html
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